domingo, 8 de fevereiro de 2015

Cássia - O Documentário

Esse final de semana pude assistir ao documentário sobre Cássia Eller e passo a fazer coro com o crítico Pablo Villaça: "Vejam Cássia!"

  Ir ao cinema vale, não só por aquela voz incrível, que conseguia interpretar de Nirvana a Edith Piaf, passando por Cazuza e Djavan, ou pra ver novamente aquela personagem alto-astral, com tanta presença de palco e autenticidade, mas pra ver que a biografada não se resume a isso. Num ritmo constante, trazendo informações da vida da artista num fluxo frenético, o documentário nos mostra bastante da Cássia mãe, da esposa, da artista tímida que tinha dificuldades em sua relação com a imprensa, da filha que às vezes precisava de colo de mãe, da pessoa, enfim.
Imagem: site audiograma


  O Diretor Paulo Henrique Fontenelle, especialista em biografias (rodou também Dossiê Jango, Loki:Arnaldo Baptista e Mauro Shampoo: Jogador, Cabeleireiro e Homem), consegue achar o tom certo para mostrar Cássia, seus (vários) vícios e virtudes com muita honestidade e leveza. Se trazia como proposta tocar em pontos que poderiam ser tabu, o faz com bastante sinceridade, como também era prática da artista. Até mesmo a polêmica em torno das circunstâncias de sua morte (incluindo os absurdos da falta de limite e leviandade de boa parte da imprensa) é encarada e revista de frente. Os depoimentos, seja de amigos e pessoas da família ou de colegas do mundo musical, seguem a mesma linha da transparência e leveza - em especial os de Nando Reis, por vezes emocionantes. O resultado de tudo isso é um filme de cerca de duas horas de duração que não decai, num explosão contínua de sentimentos de todo tipo. Mais ou menos como as apresentações da cantora.
  Talvez uma faceta pouco enxergada por todos até hoje seja a da mulher que, além de inovadora e revolucionária na música, também o foi na vida pessoal. O filme deixa claro como Cássia foi importante na luta por direitos do casais homossexuais, em vida e até após a morte, como vemos no episódio da guarda de seu filho. O mais impressionante de tudo isso é que não foi necessário que a cantora fizesse inflamados discursos ou levantasse bandeiras em seus palcos - coisa que, aliás, não combinaria muito com ela -, mas apenas dava seu testemunho de vida da forma mais simples possível: vivendo. Sem abrir a boca pra falar de igualdade e direitos civis, Cássia fez muito por eles, conseguindo, assim, conciliar de alguma forma sua posição (muitas vezes indesejada) de pessoa pública e sua crônica timidez fora dos palcos.
  Cássia, mais que nada, é um retrato de uma mulher vivendo no seu tempo, fazendo o que gosta de fazer e dizendo que com sua família, filho, amigos e música, seu mundo estava completo. E pra quê mais?

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